sábado, 31 de janeiro de 2009

TODA CENSURA SERÁ CENSURADA




















Outubro
Escrever é crime
A juventude ousa
Pensar é crime

Outubro
Colégio Brasileiro Pedro Silvestre
A literatura ocupa
Os espaços ócios
Desmonta a preguiça mental
Destrói as jaulas de aula

Nos corredores da morte
No lugar dessas certezas
Espalham-se papoulas
O néctar das rosas
Atraem os alados
Foragidos de suas colméias
As crianças são libélulas livres
A escolástica do tormento
Vira um jardim
Perfumado de poemas
Abrem-se os portões!

Outubro
Ameaça!
Os burocratas caem
Dos destroços
Erguem-se
Fecham-se as portas!
“Prendam o poeta! Matem o poeta!
Espanquem o poeta!”
Levados pela polícia
Trancados na cela
São torturados em câmaras de gás

Primeiro Distrito Policial
Ditadura risos & aplausos
O poeta está vivo
“O que não mata fortalece”

Das grades sai o canto
Apesar desses brutos
O poeta vivecanta!
Uma bomba explode na praça!

(poema em repúdio á prisão dos escritores no dia 29 de outubro de 2003)
OS EDITORES DA REVISTA SIRROSE. Ilustração: propaganda do Xarope São João.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A CORROSIVA AÇÃO DA SIRROSE...























Desde o ilustre, porém já aposentado Clube da Madrugada (1954 - até os dias de hoje _apenas simbolicamente...), Manaus não via surgir um movimento artístico/literário. Porém, a boemia de décadas, desde que a literatura marginal se tornou uma febre entre os jovens escritores de todo o mundo, a partir dos anos 60, finalmente conseguiu produzir um movimento de fato nas plagas amazônicas.
Tudo começa ainda em 1994, quando Márcio Santana, José Canuto e Janer José se reunem para pensar uma nova forma de abordagem literária numa Manaus então prá lá de estagnada. Muitas idéias e nenhuma realização duradoura marcou este período, até o novo século e novo milênio surgirem no horizonte. Em 2001, Márcio Santana convida Marcos Ney para tentarem uma revista. A proposta fica pendurada, dando tempo para Marcos Ney ainda tentar o suicídio por questões amorosas. Sua tentativa de dar fim à própria vida tomando produtos de limpeza, felizmente, não dá certo e em 2003 a idéia da revista toma corpo.
O nome Sirrose é adotado para deixar claro o caráter marginal, boêmio e corrosivo da revista. Propositalmente, a palavra é grafada com S, para passar a idéia de "escrita de bêbado". O primeiro exemplar é impresso (de forma semi-ilegal, como é até hoje), reunindo vários escritores de bar, de todas as idades (a maioria jovens entre 20 e 35 anos).
Após o porre de batismo da primeira edição, Márcio, Marcos, Bocão, Diego Morais, Wagner e mais um ou dois outros membros da revista resolvem divulgá-la em um colégio. Era de manhã e todos estavam de ressaca (tinha virado a madrugada). Entraram no Colégio Brasileiro e propcuraram pela direção. Ninguém havia chegado, nem mesmo muitos professores. O colégio estava entregue à bagunça dos alunos. Os sirróticos entram em uma sala de aula e começam sua divulgação, declamando poemas e empolgando os estudantes desocupados.
Quando já estavam na segunda sala de aula, a coordenadora chega e vai verificar do que se trata aquela inesperada manifestação. Eles explicam seu interesse em divulgar sua literatura e ela, em princípio, lhes concede a devida permição. Em agradecimento, Bocão abraça-lhe e dá-lhe um beijo no rosto. Pra quê?...
Tão logo o diretor chega, ele já solta os cachorros sobre os sirróticos, acusando sua literatura de pornográfica e chamando a polícia. Marcos Ney se empolga em fazer um discurso, inflamando os ânimos dos estudantes que só queriam um pé para ver o circo pegar fogo. Finalmente a polícia chega e todos vão para a DP. Lá, são fichados sob a acusação de incitar baderna em uma instituição de ensino e vender literatura pornográfica à menores. Para completar, a coordenadora acusa Bocão por assediá-la sexualmente, beijando-a no "pescoço" (pode?!)... Os sirróticos passam um dia na cela, aguentando humilhações e "visitas" inesperadas. Primeiro, são obrigados a ficar só de cueca na cela (o único a ficar de calça é Marcos Ney, pois não usava cueca). Depois, recebem a ilustre visita da delegada, que aparece abraçada à sua "gata" e faz aquela pressão básica. Por fim, um militar aparece perguntando: "_Quem foi o palhaço que deu um chupão no pescoço da mamãe?!" Uma vez liberados, saem já com julgamento marcado. São condenados, mas recebem penas alternativas (Márcio Santana, por exemplo, teve de distribuir três cestas básicas). Todas as revistas apreendidas com a pequena trupe de escritores são incineradas pela polícia, numa atitude digna do Santo Ofício.
Porém, este foi apenas o batismo de fogo (literal!) do movimento. Em 2004, durante a Semana de Filosofia da Universidade do Amazonas, Márcio, Marcos e mais um amigo de outro estado (cujo o nome me escapa à memória) pedem para entrar na palestra de um professor convidado e fazer uma "intervenção poética" (declamar de surpresa, coisa que eles já faziam nos bares). o professor responsável não os permite e como protesto os sirróticos ficam nus no haw da universidade. A eles também se junta o poeta, quadrinhista e também sirrótico Adriano Furtado, que fica igualmente nu. Desta vez os sirróticos escapam da cela, pois amigos da universidade intervém e contornam a situação.
E assim, de lá para cá o movimento cresceu, arrebanhou novos e excelentes aderentes e já ganha a atenção, ainda que cautelosa, da imprensa regional e de instituições divulgadoras da cultura em Manaus, como a TV UFAM e a livaria Valer.



MARCELO FARIAS

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

MANIFESTO SIRRÓTICO


















Estamos cansados de cagarmos na mesma privada! Levantemo-nos, desejosos que a SIRROSE seja pública escapando das bulas doentias! O tédio está ordenado no andar desses fracos! Vejam o olhar deles! É tão repetitivo. Estamos sedentos de andarilhos alados que voem no som harmonioso da poesia. Não suportamos mais estes enlatados que apenas engordam em seus acordos excessivos. Queremos a acidez da palavra, que não corta apenas o peito, mais o coração em corpoativo. Fora com os consumistas! Vomitamos o fel que bebemos, pois este mundo só nos serve para nos causar náuseas. Voemos como as abelhas operárias e nos embriaguemos do néctar das flores na ânsia de serem devoradas. Como zangões, libertemo-nos destas colméias e espalhemos pelas ruas todo o mel para nos banharmos do sabor vivo das papoulas. Hoje, os carros não cruzarão as avenidas, pois que iremos nos deitar no asfalto quente e treparmos coletivamente. E os filhos que nascerem deste dia serão libélulas livres para criar. Felizes são os desajustados porque escapam, nossas armas serão as nossas palavras, o beijo, a saliva cáustica, o pus da ultima ferida. Os, livros não mais serão o morfo-suporte das bibliotecas, mas sim, a nossa e a tua vida girando no mundo que gira na gente. A partir de hoje, o poeta, o artista, o pensante, não ficarão mais amordaçados, mas viverão o arroto espumante espalhado na sopa fria pronta para ser bebida. Bebamos, pois, este cálice de fluídos. Entreguemos o nosso fígado de vez aos deuses hepáticos.
Sejamos uma SIRROSE destruidora desses espaços fixos para criarmos novos mundos e nos embriagarmos da alegria de existirmos!!


OS EDITORES DA REVISTA SIRROSE. Ilustração: Adriano Furtado em ação (com Marcos Ney, sentado, ao lado).