segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

DIABO NO CORPO


















Estava na casa do vizinho,
o ciúme dominou meu padrasto.
Ele queimou minha biblioteca
restos de cinza foi o que vi.
Vi as algemas
quando os homens da lei o conduziram.
Dias depois, estava novamente bêbado
_o rosto vermelho, inchado.

Eu estava na casa de uns amigos,
ele adentrou a casa, tentou por força
me tirar daquele lugar.
Meus ossos estalavam de tensão.
Os homens da família em questão,
não tiveram forças para detê-lo.

Lembro-me da última vez que o vi.
Foi numa festa animada
na quadra de uma escola pública.
As pessoas que o conheciam
gritaram,
pois ele estava a caminho.

Houve tumulto e briga.

Ele feriu uma moça.
Cortou a barriga dela de baixo pra cima
Os órgãos ficaram expostos e ela gritava muito.
O sangue espirrava sem parar.

Fizeram o mesmo com ele.
Quando ele me viu, sorriu.
Um sorriso maldoso.
Acariciou o intestino delgado e deu o último suspiro.
Até hoje as pessoas comentam
tudo isso que aconteceu.
E explicam que naquele dia,
ele estava com o Diabo no corpo.



Nira Martins.

sábado, 21 de fevereiro de 2009























-Deus existe?
-Eu acho.
-Então, tu acha que ela volta?
-Ela tá na Bahia, otário.
-Pois é... eu sou uma besta que sempre me iludo.
-E o que Deus tem haver com isso?
-É que o crente lá da igreja disse que pra Deus nada é impossível.
-E esse Deus tem dinheiro pra ti pegar um barco? Pra Bahia fica mais caro pra ir de mar!... Tá foda! Apaga a luz e dorme!
-Porra tu é insensí­vel pra caralho, né, viado!
-A mulher tá resolvida, pô! Tem o sustento dela. Tem o cacete que quiser chupar. Tu acha que ela vai se preocupar com um escritorzinho de merda? Vamos ter consciência não?
-Que negócio é esse de merda?
-Tá bom, tá bom! Tu és um clássico undergraund. Tá mais leve assim?
-Teu teatro qualquer um faz. Só faz papel de bebum e bicha.
-Pelo menos não sofro de frescura. Posso ser bicha mas não sofro por bofe.
A luz já acessa, a porrada canta. Os vizinhos acham que é briga de viados. Mas, são apenas dois artistas lisos e solitários.



Diego Morais. Ilustração: cena do Inferno da Divina Comédia de Dante, por William-Adolphe Bouguereau.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

WORK IN PROGRESS























um cai mundo dentro de mim
buraco luminoso cai mundo
e tudo dentro de mim.
rastro de vácuo atrás dos passos
largos com que ando lado para outro
do quarto mundo dentro de mim
dentro dele, clausura.
caixacofres dentro entro cofrecaixas
como a boca que tenho na boca
e ainda assim as grades brancas
são os calcários dentes de Deus.
cai mundo: umbigodeus.
e na minha barriga o céu abrigado
(cosmicoito interrompido);
cai mundo e eu no quarto
de olhos serrados.



Daniela Moraes. Ilustração: Mae West - Salvador Dali.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

BLUE TUESDAY























As velhas cores que cercam
admitem agora outra forma.
E a luz que meus olhos fitam
metamorfozeia-se em natureza morta.

Vistas extraordinárias!
Panoramas mentais
em árvores bicentenárias
e seus caules de idéias más.

As novas cores cores diferem
da básica justificativa existencial.
A razão de as interferirem
metamorfozeia-se na busca original.

Amores um tanto difuzos e fáceis
bebem-se entre o suor anestesiado.
Odores surpreendentemente táteis
copulam alucinações em raro estágio.

Em êxtases de ansiedade contínua.
Querer sentir-se: será essa a única razão?
O pós-orgasmo da resposta anfetamínica
metamorfozeia-se na crença que não.



Suzy Freitas. Ilustração: cartaz do filme More, de Barbet Schroeder (1969) _que também é a capa do disco de trilha sonoro do filme, gravado pelo Pink Floyd.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

PÃO E CIRCO





















E viva o riso de quem os tem
como as lágrimas
de quem a s derrama com saudades.

Que vivam os miseráveis
com seus buchos cheios,
com suas almas vazias
e com seus filhos nos hospícios.

E viva o amor
_o abstrato sentimento que mata,
o abstrato substantivo tão, tão dito
e tão pouco vivdo.

Que vivam os amantes e os amigos
com suas ilusões tão pouco ardentes
e que morram os poetas,
os irresponsáveis poetas,
parceiros das dúvidas e dos desamores.



José Canuto.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

TEMPLÓRIO












Passa, passa tempo o desespero,
o ódio, a mágoa, a desgraça,
enfim toda essa malevolência em mim
que rogo, rogo e nunca passa.
Já perdi minha sforças de guerreiro.

Passa, passa tempo o meu sufoco,
traga-me ar, ó santa hemoglobina
tua benevolência não combina
com esse cancerígeno caroço.

que corrói-me sob o grito poderoso
dos status dos antigos hemisférios
e me leva sob canto glorioso
aos sepulcros, cavernosos cemitérios.

Não! Não!
Quero acordar deste horror!
Passa, passa tempo, por favor!...
Essa necrofagia não aguento não.

Maldito galardão
de altares ermos,
insólitos, soberbos
de uma cavernosa podridão.


Rojefferson Morais. Ilustração: Gaulês Moribundo - atribuído à Epígono de Pérgamo, século III a.C.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

NO VINHO ESTÁ A VERDADE























O vinho é um
reverencioso
desvanecedor da timidez.
Precioso alvoroço de festim!
O vinho é hilariante
e circula em nossos corpos
provocando uma dança,
fazendo o pensamento bailar!
O vinho decreta
que a dança seja permitida
e que a descompostura
do bailariço seja
a travessura da elegância.
A dança se reúne
com as gargalhadas explícitas
da em briaguez.
Inclinação indispensável
para cantarolas de poemas
românticos
e músicas estonteantes.
Belíssimo rosto mantém
os olhos arraigados
em minha boca
e o sorriso deflagrando
felicidade total.
Fico curioso, mas prefiro rir!
Risos compulsivos
e sem cerimônia!



Edilson Seta. Ilustração: Jovem Baco - Caravaggio.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

LANÇAMENTO DE "O HOMEM COM A ABERTURA NA TESTA" (2008)
























































1. Márcio Santana exibindo um exemplar de sua novela, O Homem Com A Abertura Na Testa. 2. Márcio falando no lançamento do livro. 3. Tenório Telles (da Valer) em seu discurso de abertura do lançamento de O Homem Com A Abertura Na Testa. 4. Eu (Marcelo Farias) em minha vez de falar. 5. Pollyanna Furtado declamando um de seus lindos poemas. 6. Wagner também abrilhantando a ocasião com seu lirismo. 7. Rojefferson mostrando seu talento efervescente ao fechar a sessão de declamações. 8. Márcio, Virgílio e Pollyanna (de costas). 9. Márcio, sua mãe, o poeta Thiago de Mello e Pollyanna Furtado. 10. Márcio e seu cachimbo (2007).

domingo, 8 de fevereiro de 2009

SIRROSE - MOMENTOS





























1. Capa da Sirrose VI - 2. Palestra sobre a Sirrose, em 2007, na UFAM - 3. Adriano Furtado explanando sobre a Sirrose _sua história e sua importância para a literatura no Amazonas _ ladeado por Márcio Santana e Max Caracol - 4. Pollyanna Furtado, Márcio Santana e Edilson Seta vendendo a Sirrose VI em teia literária (2006) - 5. Márcio Santana tentando explicar a Teoria do Caos (Marcos Ney em primeiro plano - 2006) - Débora Carla, Virgílio, Adriano Furtado e Márcio Santana no Bar do Cabeludo (2006) - Jalna Gordiano, Márcio Santana, eu (Marcelo Farias), Débora Carla e Inácio (ex-namorado da Jalna), 2007.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

PSICOLOGIA DAS CORES


















As ruas - pintadas de negro.
Meus olhos - pintados de branco.
Branco meus olhos negros
nessa rua de branco.

Todo branco, vermelho,
mais que negro, duplicado
dois aziagos negros:
um vermelho e um manchado.

Fossem seus cabelos negros
brancos, como ainda são;
num futuro hei de vê-los
brancos de um negro vão.

Todo azul, se vermelho,
é um azul mais maduro.
Como o céu que é vermelho,
já sem futuro algum.

Todo espelho é mais velho
que seu dono - absurdo
é não ver que o espelho´
é duplo em tudo.

Já meu peito é mais velho
que sua jaula no mundo
o tempo de pensamento
é claro-escuro.



Adriano Furtado. Ilustração: vitral - foto de Gilson Camargo.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009























Meu corpo,
esta imunda porção
de células natimortas
se autodecompõe ao pesar
dos anos insanos que passam
regados desregradamente
entre mesas, álcool, copos
e putas que flagelam
minha alma errante de ser.
Meus tecidos epiteliais
desfibrilam-se em soturnos bacanais.
Meu hipotálamo mudou-se há tempos
para o lado mais obscuro da vida.
Meus olhos macambúzios
debaixo dessas pálpebras ébrias
teimam em desvirtuar o horizonte.
Minhas pernas me levam sempre
ao bar mais próximo da morte.
Meus sonhos são recheados
de covas de terra fria
procurando aplacar
a embriaguez em que me encontro.
As vozes que ouço são murmúrios
e lamentos satânicos dos que
diuturnamente me acompanham
nessa empreitada sem volta
que a cada amanhecer se renova.



Amarildo Maciel. Ilustração: Boris Karloff como o monstro de Frankenstein.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

CRIADORA DE SÍMBOLOS






















Não sei definir o que há,
nem consigo segurar o que sinto
Expressão de forma cabalística
Mil formas de pensamentos "sem sentidos".
É porque é bom.
Adoro brincar de Deus!
Mas crio coisas "inúteis"
sufocando os meus instintos.
Indefinindo, confundindo os olhares.
De vulgo luxurioso
vocabulário reprimido.
Comunicação bloqueada,
numa tênue reflexão,
de tanto buscar o clímax...
Afasta-se,
nefasta
e nada.
Pois se contenta com burburinhos;
de honrarias fáceis.
Destruindo o verdadeiro
templo da salvação
de uma criadora de símbolos.



Pollyanna Furtado. Ilustração: Leda Atômica - Salvador Dali.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

VOMITANDO TINTA NO PAPEL
















Judas
foi o apóstolo que mais amei.
Foi Judas quem me pariu.
Nasci de uma caixa de música
triste
como a dançarina que pula da caixa
de Pandora
dançando e fingindo nada importar,
embalando o sonho de uma criança
qualquer,
abrindo e fechando,
repetindo a música chorada,
repetindo a dor guardada
e sentida solitariamente.
Quando a corda quebrar
e a bailarina parar
o silêncio tomará o rumo do nada.
Que um dia bíblico transforme em
paz
o que existe.
Trombetas soarão,
vermes viverão solenemente.
Que o juízo seja eterno,
que todo o mal feito
transforme o choro em sorrisos
sinceros.
Espero arduamente
a corda quebrar.



Jalna Gordiano

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

EPÍTETO DO EPITÁFIO
















meu nome escrito à mijo
escorre como choro
salgado como um soro
a terra que há de me comer
agora me bebe
e eu tô cagando pra isso.

pobre Farrapo, precisou morrer
pra alimentar a erva
e só então descobrir
que é um adubozinho de merda.



Farrapo

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

EXPRESSO DOS ANJOS

















Andar ruas, esconder-se multidão. Pessoas escondem-se em mim. Sou minhas doenças. Fumaça. O mundo é este nevoeiro de carbono lançado no cosmo por máquinas velhas. Placas, cartazes, sapatos, passadas, passados. Pele descartável. Hoje as flores de plástico tem pétalas de carne. Misturo-me com a pele dos outros. Mal me quer, bem me quer. Despetálo-me neste ônibus ao meio dia. Essa carcaça de ferro e vidro exibe o rosto dos esquecidos na janela. Os postes me acompanham.
A máquina leva seus passageiros nas costas. Pingos de chuva vêm do céu da boca das nuvens. Mexo o braço mexendo os corpos dos estranhos. Como poderei amá-los? Esqueço seus rostos num olhar desinteressado. Esqueço. Não me vejo. Meus pés confundem-se com os passos falsos, sem graça e inúteis dos outros. O ônibus, essa nave sem vôo, é a verdade de seus passageiros. Minto sem saber. Sei que eles mentem em busca de uma verdade imaginada nos botões caídos sobre o metal da nave. O chão não é visto, nem sentido. É preciso chegar no ponto. Chego na estação. O mundo é cheio de paradas. Saberemos sempre onde descer. Aonde chegar? Em casa? Na fábrica? No bar? Na praça? Na morte?
As lâmpadas piscam para se apagarem. Cortes. Portas. Janelas. O ônibus segue lotado. Estou lotado dos outros com meus ombros enrijecidos. A cigarra canta pra morrer. Quando precisarei descer? A cigarra canta pra morrer. Medos de sinetas imperativas. Estou de pé nos pés dos outros. Me conforto vendo sete passageiros sentados. Das costas de suas costas surgem pontas de ossos em vão brotando em forma de galhos venosos. Asas vão cada vez mais crescendo. A penumbra. Pares de asas. Enormes asas. o ônibus não poderá suportá-los, nem comportá-los, muito menos me assombrar. Vejo mães parirem seus filhos para comê-los. s passageiros se incomodam com a penugem dos alados. Apesar das longas asas, eles não conseguem se mexer. O homem de asas levanta-se. Outros ocupam seu lugar. Alívio para os pés cansados. O expresso tem janelas grandes, de vidro. Todas fechadas. As portas automáticas não abrem fora do ponto. Eles precisam sair do veículo e voarem. Pra quê ter asas se não podem voar? Apesar de imensas janelas cristalizadas de plástico preto, a ventania não circula. O dia inteiro será sempre noite de dentro dessas máquinas. Eu quero que este monstro de aço esmaltado se choque no primeiro muro da moral. Que se espedaçe no último desastre. Que se espalhem seus vitrais pelo mundo.
Um menino arranca da sacola um martelo. Quebra as janelas e solta as aves. Os alados escapam damáquina. Voam libertos sobre a cidade suja.


Marcus Ney. Ilustração: Lagarde Perpignan - Salvador Dali.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

JORGE TEIXEIRA, JOÃO PAULO, VAI?!...


















Somos feitos de solidão e porra!
Ele só tinha grana pra uma cerveja equeria foder uma boceta também. Quebrou ali a Frei José dos Inocentes e descendo devagar a velha Mauá. Entrou no primeiro inferninho que viu e foi sentar-se na mesa dos fundos, no escurinho. Pediu a cerveja. Haviam duas tvs, uma de putaria e outra só de porrada e ele se ligou na de putaria, bem na cena em que um negão enterrava fundo o seu pau enorme no cu tesudo da putona branca. Se tivesse grana agora pagaria uma puta igualzinha aquela. Abriu a braguilha e puxou o pau pra fora, dando início à masturbação. Há anos que não tem uma foda decente. O mesmo buraco escroto da mulher. Depois dos quarenta parece que tudo seca. Qualquer dia desses, a enteada ia levar a dela. Ia pensando em coisas estranhas enquanto punhetava-se. A puta branca do filme agora chupava loucamente o pau imenso do negão e ele se admirava com a cena, de como ela engolia tudo aquilo e ainda conseguia sorrir. Ah, hoje mesmo daria cabo da mulher e descabaçaria a enteada de oito. Amasturbando o pau com mais rapidez, parecendo querer arrancá-lo de seu corpo. Não chegou a gozar não. Um infeliz qualquer vendo aquilo soprou pro Cabeça de Bigorna, que foi até ele tomar providências:
_Não pode isso aqui, não! Paga a cerveja e cai fora!
Guardou o pau melado de volta, pagou a cerveja e deixou o bar. Na porta ainda parou e pensou: "Tudo pela metade, cerveja, punheta, a vida..." Olhou a rua. "Aonde ir agora?" Pensou no Paulista, que sempre lhe fiava uma dose. No caminho, uma puta velha e gorda lhe chamou para o banho.
_Só se for de graça _respondeu _Tô duro! Amanhã te pago!
_Vai te foder, seu fudido! Quero que teu pau caia, seu fudido de merda! _rebateu a puta.
"Porra! Fudido de merda! Enfiasse logo um espetinho de gato no peito!" Entrou irado no bar do Paulista e suplicou uma dose.:
_Porra, Paulista, só uma dose, velho!
_Tu nunca tem grana, porra! Assim tu me quebra, caralho! _retrucou o paulista.
Papai Noel sorriu do seu canto. Foi quem pagou a dose e disse:
_Volta lá e resolve a parada.
Tomou a maldita de uma golada só e seu rosto todo tremeu. deixou o bar e fez o caminho de volta. Apanhou um espeto sujo do chão e se aproximou da puta velha, que distraída pintava os lábios com batom. deu duas estocadas consideradas em seu rabo gordo e flácido e ela soltou um urro de bicho e começou a gritar, mas ninguém veio em seu socorro. Ele então subiu, na boa, para descansar na Praça do Pau Mole e por um instante olhou um céu vomitado e pensou: "Fudido é a mãe!" Quando chegasse em casa ferraria mesmo de vez com a patroa e arrancaria o cabacinho da enteada de oito, que graças a Deus, nunca o chamou de pai. Perto dali, o boca de ferro passava gritando:
_Jorge Teixeira, João Paulo, vai?!




Márcio Santana - Crimidéia.